segunda-feira, 7 de setembro de 2015

QUESTÃO DE TEMPO

Poderia ser uma história comum, mais uma comédia romántica que fala de viagens no tempo, de tentativas em prol de consertar situações imperfeitas do passado, enredos já conhecidos de outros longas. Poderia ser só mais um filme sobre causas e consequências de nossos atos, com uma boa direção e trilha sonora perfeita, mas não é, é mais, bem mais, porque combina drama e comédia em cenas que induzem a autorreflexão sobre a maximização de nossos tão insignificantes problemas perto da grandiosidade de um carater e do amor. A direção de Richard Curtis, roteirista de Quatro Casamentos e Um Funeral, O Diário de Brigite Jones e Um Lugar Chamado Notting Hill é perfeita e cada personagem atua com domínio e ao mesmo tempo leveza, prendendo a atenção do espectador até o fim, apesar da longa duração do filme. Filme despretensioso mas grande no sentido de elevar nossa mente e impulsionar o desejo de fazer algo de bom por alguém, pela sociedade, pelo mundo.

Pontos do filme que a meu ver merecem pausa e reflexão:

* O filme tem cenas familiares tocantes, momentos simples mas de extrema beleza, onde cada membro da familia tem sua personalidade, mas todos contribuem para momentos felizes e para o bem comum, a união é enfatizada como agregadora de valores transmitidos. No mundo atual, smartphones sempre de última geração são a familia da maioria, numa total relação de dependência doentia, aumentando conflitos internos, gerando ausência ou inversão de valores importantes, inseguranças e a incapacidade de comunicação real, aumentando o egoísmo.

* Se pudéssemos voltar ao passado e modificar alguma situação, isso seria relevante para o futuro, sem dúvida, mas se temos essa consciência, por que não ponderamos mais e agimos com mais cuidado no presente, já que em breve ele também será futuro?

* A relação pai/filho tão evidenciada no filme se por um lado retrata ótimos momentos vividos a partir do conhecimento de uma doença fatal e da proximidade da morte, também nos mostra que até o apego tem limites e pode se tornar prejudicial quando em excesso, afetando a vida não só dos envolvidos, como também de outras pessoas do círculo familiar ou mesma esfera social. Então, treinar e praticar o desapego é sempre necessário.

* A fortaleza de uma mulher muitas vezes não reside apenas em sua personalidade, ela é aumentada e alimentada por um profundo amor e companheirismo. Quando alguém se sente amado e amparado, se sente também mais forte e mais capaz de superar todos os obstáculos.

* Qual o momento exato de parar com fugas de problemas, qual o momento exato da aceitação total do nosso cotidiano do jeito imperfeito com que ele se apresenta? Em que momento devemos simplesmente agradecer o que temos e fazer o possível com nossas possibilidades, sem querer buscar a perfeição de tudo, inclusive de qualquer situação que não nos agrade? No filme, o protagonista volta ao passado entrando num lugar escuro e se concentrando no dia para o qual quer voltar, para consertar algumas situações que poderiam ser melhores, momentos que poderiam ser mais perfeitos. No nosso mundo essa fuga da realidade como ela se apresenta pode ser através de qualquer tipo de droga, inclusive da internet.

* Em qualquer familia existe sempre um parente que rotulado de excêntrico ou louco, as vezes incomoda por suas atitudes estranhas. No caso da familia de Tim, o personagem é o tio, mas ao contrário de ser incômodo, é respeitado, querido ou ao menos tolerado com simpatia por todos. É amoroso e gosta de ajudar, sensível demais, percebe tudo a sua volta, só não exterioriza o que sente. Geralmente as pessoas consideradas loucas tem muito a oferecer e ensinar.


Resumo do Filme:

Uma familia feliz que vive num lugar encantador, de sonho. Penhasco, água, brisa, sol, momentos simples de uma familia que desfruta de tudo isso e de boas relações entre todos. Um pai que tenta recuperar o tempo perdido, uma mãe forte, irmãos que se dão bem, férias, conflitos simples e a revelação de um segredo, esses elementos e outros fazem de Questão de Tempo um filme muito bom, leve, tocante e delicado. No dia em que completa a maioridade, Tim Lake (Domhnall Gleeson) descobre que consegue viajar no tempo. O seu pai (Bill Nighy), revela que ele e todos os antepassados homens tem esse dom. Completamente cético a principio, Tim, um protagonista cujo tipo físico foge a beleza masculina convencional e é até atrapalhado, resolve experimentar. Ele precisa ir para um lugar escuro, cerrar os punhos e imaginar o dia para o qual quer voltar. Experimenta e vê que dá certo, aproveita e beija uma amiga do passado, numa certa noite de Ano Novo, um momento do qual ele se envergonhava por causa da sua excessiva timidez. Então, vendo que funcionava essa viagem no tempo, Tim passa a fazer uso disso em todas as vezes em que ele acha que pode melhorar a “imperfeição do momento” ou solucionar um problema, mas logo percebe que algumas coisas simplesmente por mais que sejam alvo de esforços, não podem ser mudadas, exemplo disso é a vontade de cada pessoa, que sagrada, não pode ser alterada. Tim muda-se para Londres, agora é advogado, trabalha numa firma de advocacia e mora com um amigo do pai (Harry), dramaturgo ranzinza mas apenas porque está numa fase difícil em busca de reconhecimento profissional, que finalmente chega graças a intervenção de Tim, ele volta ao passado e ajuda o ator principal da peça nas suas falas esquecidas. Tim vai tentando melhorar a vida das pessoas que o cercam. Nesse processo, conhece Mary (Rachel McAdams) e a paixão é imediata, depois de alguns desencontros eles finalmente ficam juntos, se casam e formam uma linda familia, mas Mary não sabe e nem pode saber do segredo de Tim. Por conta de querer salvar situações imperfeitas, Tim chega a de repente se descobrir pai de filhos que não conhecia e de ver sumidos os filhos que eram dele até então, porque algumas situações, quando mudadas, alteram tudo. Numa difícil decisão e tendo que abrir mão de rever o pai já falecido, Tim resolve parar com suas viagens "excêntricas”, mas não abre mão de tentar melhorar tudo que o cerca, tentar ser mais grato e reparar mais nas dádivas ocultas em cada dia e em cada momento, com todos os meios simples mas disponíveis no cotidiano para ele e para todos aqueles que tem uma vontade forte de fazer desse mundo, um lugar melhor para se viver e conviver.


Por: Dalia Hewia


Ficha Técnica:

Gênero: Comédia Dramática
Direção: Richard Curtis
Roteiro: Richard Curtis
Elenco: Andrew Martin Yates, arbar Gough, Ben Benson, Bill Nighy, Catherine Steadman, Charlie Curtis, Clemmie Dugdale, Domhnall Gleeson, Graham Richard Howgego, Harry Hadden-Paton, Jacob Francis, Jago Freud, Jaiden Dervish, Jenny Rainsford, Jon Boden, Jon West, Kenneth Hazeldine, Kerrie Liane Studholme, Lee Asquith-Coe, Lee Nicholas Harris, Lindsay Duncan, Lisa Eichhorn, Margot Robbie, Mark Healy, Matilda Sturridge, Mitchell Mullen, Molly Seymour, Natasha Powell, Neve Gachev, Olivia Konten-Sloman, Ollie Phillips, Philip Voss, Rachel McAdams, Rebecca Chew, Rowena Diamond, Sara Heller, Sophie Brown, Sophie Pond, Tom Hollander, Tom Hughes, Tom Stourton, Vanessa Kirby, Verity Fullerton, Veronica Owings, Will Merrick
Produção: Eric Fellner, Tim Bevan
Fotografia: John Guleserian
Montador: Mark Day
Trilha Sonora: Nick Laird-Clowes
Duração: 119 min.
Ano: 2013
País: Reino Unido
Cor: Colorido
Estreia: 20/12/2013 (Brasil)
Distribuidora: Universal Pictures

Estúdio: Translux / Working Title Films


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