quarta-feira, 13 de maio de 2015

O HOMEM NU


 

Resolvi escrever sobre esse filme porque agora, em tempos modernos (?) voltou a antiga moda de usar a nudez pra chamar a atenção, o que não foi o caso desse roteiro, mas que traz em si uma ótima oportunidade pra se pensar nas diversas vezes, várias ao dia, em que nos calamos, sufocando nossos desejos, objetivos, medos e anseios.
O ato de desnudar o corpo é uma rebeldia da alma.

O Homem NU



O filme é antigo (1997) e o ator que dá vida ao personagem também é antigo na arte de representar bem cada papel ao longo de sua carreira. O longa conta a história de Sílvio Proença (Cláudio Marzo), um escritor, pesquisador e poeta entediado com sua rotina, mas que se deixa levar por dias e noites mornos e chatos, até que um imprevisto (chuva e consequente cancelamento de seu voo para São Paulo e compromissos de trabalho onde irá divulgar seu livro) o obriga a mudar, circular nu pelas ruas e tentar sobreviver assim, sem enlouquecer e sem se entregar: aos loucos, a polícia, aos radicais,aos tarados, aos fofoqueiros de plantão e a todos os tipos que fazem de qualquer sociedade um hospício ambulante.

Com o voo cancelado, ainda no aeroporto, Proença encontra um grupo de antigos amigos e conhece Marialva (Isabel Fillardis), a quem continua conhecendo um pouco mais no apartamento dela, onde os amigos passam grande parte da noite regada a bebida e música. Conhece ainda mais a fundo Marialva,na cama, fato que dá início a trama.
Quando a manhã chega trazendo a ressaca, Sílvio ainda confuso se levanta e vai pegar o pão que está na porta, mas claro que o destino,ali de prontidão, dá uma empurrada maldosa no vento que estava quieto e bate a porta, deixando Proença do lado de fora, como veio ao mundo. O homem nu tenta em vão entrar, toca a campainha e bate na porta, mas Marialva não abre, não ouve, não quer ouvir, porque está ainda sonhando com a noite passada, sonhando no banho, acordada. Proença que agora está do lado de fora da sua própria vida até então chata mas segura, passa a ficar sempre no olho do furacão, tentando fugir, tentando conseguir alguma roupa, tentando se comunicar, explicar, tentando qualquer salvação, tentando, tentando... O desenrolar da história é um tapa sempre bem-vindo e bem dado na cara da hipocrisia social. O longa enfatiza a fofoca e como o fenômeno vai adquirindo proporções incontroláveis, o puritanismo, a maldade, a constante falta de apuração da verdade dos fatos, a multidão com sede de tragédias e o oportunismo de quem tenta se beneficiar da desgraça do outro, seja de que forma for, principalmente a mídia, com ênfase para programas de tv e repórteres atrás de uma reportagem que possa dar audiência e quem sabe lhe trazer elogios e uma promoção.
No filme,depois de muitos sustos e desespero, o escritor de folclore consegue finalmente retornar pra sua casa, o apartamento onde morava com sua esposa Marina (Lúcia Veríssimo). Quem abre a porta é Mendonça (Daniel Dantas), agora amante de Marina, fato que Proença já sabia, mas fingia desconhecer pra não ter trabalho, pra não se aborrecer, do mesmo jeito que fazemos com um problema que não nos ameaça. O desfecho é um espetáculo, Mendonça é punido de forma brilhante.
A direção de Hugo Carvana está na medida certa entre o drama, a comédia, a crítica e um certo lirismo. O Homem Nu começa com o barulho da chuva e a delicadeza do som vai se misturando com sirenes de polícia, rumores da multidão, etc., sons que dão a introdução perfeita, que despertam o desejo de assistir. Esse equilíbrio da direção e um roteiro excelente dão o tom para que o espectador chegue ao final e reflita sobre várias questões. Acho que se um filme provoca essa reação, justifica sua produção.


Ficha Técnica:



Gênero: Comédia

Direção: Hugo Carvana
Roteiro: Fernando Sabino
Elenco: Cláudio Marzo, Daniel Dantas, Isabel Filardis, Lúcia Veríssimo, Maria Zilda Bethlem
Produção: Marta Alencar
Fotografia: Nonato Estrela
Trilha Sonora: David Tygel
Duração: 75 min.
Ano: 1997

Premiações e indicações:


Festival de Gramado 1997 (Brasil)



- Venceu na categoria Competição Brasileira: Melhor Ator (Cláudio Marzo).
- Indicado na categoria Competição Brasileira: Melhor Filme.

Festival do Cinema Brasileiro de Miami 1998 (EUA)
- Venceu na categoria de Melhor Roteiro.


O Homem Nu é um filme dirigido por Hugo Carvana, com roteiro de Fernando Sabino, baseado em crônica sua, do livro O Homem Nu.



Por: Dalia Hewia

                


         

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